O lançamento da Linha F do Metrô de Buenos Aires marca o avanço substancial da primeira nova linha de metrô na capital da Argentina em 25 anos, mas o projeto está entrelaçado com complexos emaranhados históricos, desafios econômicos e oportunidades de cooperação internacional. A análise a seguir está estruturada em torno de quatro dimensões-chave: detalhes principais do projeto, obstáculos históricos, desafios atuais e perspectivas futuras:
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Rota e Estações : Conectando os bairros de Barracas ao sul e Recoleta ao norte, a primeira fase da Linha F será uma "rota expressa" subterrânea com 6 estações, interligando-se com as linhas existentes C, E, A, B e D. Está planejada para se estender até o icônico estádio "La Bombonera" do Boca Juniors no futuro, servindo como um hub que conecta centros comerciais e marcos esportivos.
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Padrões técnicos : Equipada com sistemas de sinalização avançados e trens com ar condicionado, a linha utilizará uma frota de 14 trens. A quantidade diária inicial de passageiros é estimada em 307.000, aumentando para 600.000 no longo prazo — equivalente a 50% do volume atual de passageiros do metrô de Buenos Aires.
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Principais Marcas Temporais : A licitação internacional está programada para ser lançada em junho de 2025, com início da construção em 2026 e operações começando em 2031 (existe uma discrepância de um ano em relação ao alvo anterior de conclusão em 2030 estabelecido pelo Prefeito Macri, necessitando verificação).
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Escala de Investimento : O orçamento total é de $1,05 bilhão, com 60% alocados para engenharia civil, 30% para sistemas mecânicos-eletrônicos e material rodante, e o restante para custos de projeto e financiamento.
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2001–2016 : A rota foi legalmente aprovada pela legislatura de Buenos Aires em 2001 (Lei 670) e reafirmada em 2008 (Lei 2710), mas o progresso paralisou devido a conflitos com o não implementado projeto do Trem Regional Express (RER) na Estação Constitución, tornando obsoleta uma análise de viabilidade feita pela Systra da França.
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2017–2022 : Um novo processo de licitação para estudos foi adiado 14 vezes antes de ser cancelado em maio de 2022. Funcionários do governo rejeitaram o projeto como uma "empreitada louca", destacando pressões fiscais e divisões políticas.
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2023–2025 : Equipes internas concluíram "projetos básicos" até o final de 2023, mas o orçamento de 2025 não incluiu verbas para construção — repetindo apenas a promessa dos últimos quatro anos de "avançar nos projetos de engenharia para licitação", sinalizando riscos persistentes de implementação.
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Crise Fiscal : A inflação da Argentina em 2024 chegou perto de 300%, as reservas de divisas estrangeiras estavam em US$ 28,6 bilhões e a dívida pública atingiu 57,7% do PIB, tornando difícil financiar o projeto de US$ 1,05 bilhão.
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Volteio de Políticas : A "terapia de choque" do governo Milei incluiu cortar subsídios ao transporte público (um aumento de 360% na tarifa do metrô em 2024) e pausar projetos de infraestrutura, ameaçando a viabilidade do financiamento da Linha F.
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Dependência de Financiamento Internacional : Excluindo capital local, o projeto depende de instituições como o Banco Europeu de Investimento (que financiou as melhorias do metrô na província de Buenos Aires) ou modelos de PPP, mas nenhum compromisso formal foi garantido.
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Controles de Câmbio : Regulações rigorosas de moeda representam riscos para empresas internacionais, pois as receitas em pesos podem enfrentar atrasos na repatriação em dólares, reduzindo o apetite dos investidores.
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Desafios Geológicos : Níveis elevados de água subterrânea e proximidade com sítios históricos (ex.: Cemitério da Recoleta) exigem escavação com tuneladora, aumentando os custos em 40% em comparação com a construção acima do solo.
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Escalonamento Apertado : Construir 6 estações subterrâneas em cinco anos (2026–2031) é ambicioso, considerando uma taxa média de atraso de 30% para projetos semelhantes na Argentina e a necessidade de coordenar com as operações existentes do metrô.
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Jogadores Europeus : A Systra da França (experiência em estudos preliminares) e o Grupo ACS da Espanha (especialização em infraestrutura na América Latina) são possíveis concorrentes para design e obras civis.
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Empresas Chinesas : A CRRC forneceu 45 carroções climatizados para a Linha A em 2013 e obteve um contrato de trem leve na Província de Jujuy em 2022; o Grupo CITIC participou de uma aquisição de 279 carros de metrô, posicionando firmemente as empresas chinesas no fornecimento de material rodante e sistemas eletromecânicos.
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Forças : Experiência transferível de projetos na América Latina (por exemplo, São Paulo, Santiago) e potencial financiamento por políticas sob a Iniciativa Cinturão e Estrada (por exemplo, empréstimos do AIIB).
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Riscos : Demoras prolongadas na repatriação de fundos (em média de 18 a 24 meses devido a controles de câmbio) e a cautela do governo Milei em relação às empresas estatais, exigindo joint ventures para mitigar riscos.
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Avanço no Financiamento : Empréstimos a juros baixos do BEI ou FMI (espelhando um empréstimo de controle de inundações de 2022 para a província de Buenos Aires) poderiam manter o projeto no caminho certo.
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Inovação Tecnológica : Construção modular (como visto na Linha Thomson-East Coast de Cingapura) e sistemas de manutenção inteligentes (por exemplo, os mecanismos de resposta 24/7 da CRRC) poderiam acelerar a entrega e a eficiência operacional.
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Colapso de Financiamento : Uma proposta fracassada em 2025 poderia ressuscitar o ciclo de 2014–2022 de "estudos e cancelamentos", descarrilhando o projeto indefinidamente.
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Insatisfação Social : As medidas de austeridade da administração Milei já desencadearam greves; se a Linha F for percebida como um "projeto para elites", pode intensificar o descontentamento público sobre a alocação desigual de infraestrutura.
O destino da Linha F do Metrô reflete desafios sistêmicos no setor de infraestrutura da Argentina: volatilidade política, déficits fiscais e lacunas na capacidade técnica. Embora seu lançamento indique progresso, resolver questões de financiamento, cronograma e consenso social permanece crítico. Empresas chinesas podem aproveitar suas fortalezas técnicas e financeiras, mas devem navegar pelos riscos cambiais e incertezas políticas. Um resultado bem-sucedido poderia estabelecer um marco de cooperação regional em infraestrutura, enquanto o fracasso poderia erodir ainda mais a confiança internacional no clima de investimento da Argentina.